quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dicas de Português

Posição de adjunto e "trata-se de" no plural
Por Thaís Nicoleti, UOL

"O Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude (Unicef) criticou oficialmente a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), na última semana, de manter a sentença que absolveu dois clientes por explorarem sexualmente crianças - sob o argumento de que se tratavam de prostitutas conhecidas."
O fragmento selecionado para o comentário de hoje apresenta dois problemas: a posição ambígua do adjunto adverbial de tempo e a incorreta flexão da forma do verbo "tratar".
A posição do adverbial é ruim porque leva a duas interpretações: pode o Unicef ter feito a crítica na última semana ou pode ter a decisão sido tomada na última semana (veja, abaixo, duas versões do texto).
O verbo "tratar" na construção "trata-se de" significa "discorrer, falar", quer dizer, "está-se falando de" alguma coisa, sobre algum assunto. Nesse caso, o sujeito da oração é indeterminado (e o índice de indeterminação é o pronome "se"), motivo pelo qual o verbo fica no singular. É bom lembrar que o verbo se flexiona para concordar com seu sujeito; na ausência de um sujeito determinado, o verbo fica no singular.
É possível que o redator tenha feito confusão com uma estrutura semelhante a essa, a do sujeito apassivado (que pode levar o verbo para o plural). Assim: "Começou-se o trabalho", "Começaram-se os trabalhos". Observe que, com o verbo "começar" (transitivo direto), pode ocorrer a voz passiva, mas, com "tratar de", não. O termo preposicionado ("de prostitutas conhecidas") não pode ser sujeito.
Veja, abaixo, a correção:
O Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude (Unicef) criticou oficialmente a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tomada na última semana, de manter a sentença que absolveu dois clientes por explorarem sexualmente crianças - sob o argumento de que se tratava de prostitutas conhecidas.
Na última semana, o Fundo das Nações Unidas para a Infância e Juventude (Unicef) criticou oficialmente a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de manter a sentença que absolveu dois clientes por explorarem sexualmente crianças - sob o argumento de que se tratava de prostitutas conhecidas.

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